O Naufrágio

Em O Naufrágio, O Marinheiro, de Fernando Pessoa é apresentado em versão integral, e comentado a partir de trechos de A Tempestade, de William Shakespeare, estabelecendo um diálogo que ilumina o tema do valor do sonho para a existência. Essa trama de voz, palavra e letra ressoa com a música de Gustav Mahler, Keith Emerson, Greg Lake, Carl Palmer, Bela Bartok...

Ao longo de O Naufrágio, as muitas personagens apresentadas por uma única atriz, se reiteram, se desviam, ou se contradizem ecoando, na indefinição dos limites entre o si mesmo e o outro, a dimensão em devir dos que sonham.


As Dimensões Visual e Acústica em O Naufrágio

Produção Sonora: Em O Naufrágio o ponto de partida para a encenação é sua Dimensão Acústica, atitude esta que se reflete, emseguida, no intenso trabalho sobre Dimensão Visual da cena. As palavras tecem a trama que a música atravessa. Algums vezes, isto se dá com ironia. Outras vezes, a música vem a magnificar a dimensao dos sentidos em cena, como acontece no Prólogo, com The Three Fates, de Emersom, Lake and Palmer, música que evoca às tres deusas do Destino. É a presença da música também que aumenta a intensidade da ‘co-moção afetiva’ que o relato do sonho do Marineheiro no sonho da Segunda Mulher provoca em todos nós.


Paralelamente à música, à voz e à palavra, as possibilidades dinâmicas, tímbricas e de espacialização do sistema de som 7.1 utilizado permite tanto a atualização no som da tempestade no início da peça, de diversas personagens e de dos entornos acústicos que as falas das tres mulheres, criadas por Pessoa, evocam ao longo da mesma.


A materialidade e a potencia da Dimensão Acústica são protagônicas em O Naufrágio; é a partir dela que se tece e redefine a cena dialogando, comentando ou contestando, em consonância ou dissonância com o que se vê, multiplicando as possibilidades de produção de sentido. Em fim, interferindo na percepção de tempo e espaço da platéia, o desenho acústico em O Naufrágio promove a configuração de sentidos e a imersão do público na cena.

Cenografia: Duas telas assimétricas remetem a velas de um barco ou a paredes de um quarto. Compondo um ângulo de aproximadamente 120o entre si são, ao mesmo tempo, cenografia e telas para as imagens das três mulheres de O Marinheiro, e para Miranda e Milagros em sombras. Sustentados por dois jogos de cabos de aço que atravessam o plano superior do espaço cênico em diagonais, os painéis remetem a urdimentos de navegação, redes ou teias (de aranhas?... de sentidos?...). Na frente deles há um móvel, uma espécie de cômoda ou Caixa Mágica, onde uma múmia se oculta no inicio da peça, e sobre a qual ela, mais tarde, é colocada a sonhar. A Caixa Mágica guarda também todos os objetos de cena que são revelados ao longo da peça.

No final de O Naufrágio é também revelada, à direita do publico, uma reprodução em miniatura do cenário que apresenta, em um dos seus painéis, um novo ‘palco’ dez vezes menor e exatamente igual ao primeiro. Esse ‘palco mínimo’ e as ‘cenas’ que ele abriga, intensificam mais ainda o infindável jogo de espelhos proposto pela encenação.


Caracterização: Os figurinos em tons de magenta e laranja da única atriz em cena (ao vivo e no vídeo), destacam-se da cenografia, onde predomina o branco. Em Miranda e nas três Mulheres, a leveza do desenho, dos tecidos e dos penteados remetem ao art-nouveau. Em calça jeans de veludo e blusa de algodão, a aparência de Milagros se vincula a de todas as outras personagens pela fisionomia de atriz, as cores de suas roupas e um pequeno chalé, igual ao das três mulheres no vídeo. Moças, mulheres, fadas, princesas ou sereias, a aparência das personagens não indica um tempo e espaço definido.

Vídeo na cena: Além de concretizar o efeito de multiplicidade das personagens o vídeo em O Naufrágio se estabelece como opção estética e discursiva.


O vídeo é parte integrante da cena. Os processos de reprodução, de edição, de montagem e de manipulação que o vídeo permite ampliam as possibilidades do tempo cênico servem, comentando ou ironizando a respeito dos jogos com o tempo e o espaço na peça.



Iluminação: A luz em O Naufrágio instala uma atmosfera onírica. Ora atualiza a presença do mar, dos lagos e riachos em tons de verdes e azuis, ora remete a viagens no tempo, em tons envelhecidos de chocolate e sépia. As ações realizadas junto à Caixa Mágica também são pontuadas pela luz branca que surge dela, sugerindo a apertura da cena para uma outra dimensão. Os painéis servem como suporte para as projeções, para dar profundidade tanto ao espaço e significação à cena, em jogos de luz, contra-luz e sombra.



Temporada 2010

Ficha Técnica

Encenação: Silvia Davini

Elenco: Sulian Vieira, Sara Mariano, Silvia Davini e César Lignelli

Cenografia, Figurino e Objetos de Cena: Silvia Davini e Sulian Vieira

Produção e Edição Sonora: César Lignelli

Produção e Edição de Imagens: Tiago Torres

Operação de Som e Imagens: César Lignelli

Iluminação e Operação de Luz: Camilo Soudant

Execução Técnica: Fernando Martins e Luiz Felipe Ferreira

Programação Visual: Thiago Sabino

Assessoria de Imprensa: Amanda Guerra



Teatro Helena Barcelos

Universidade de Brasília

De 30 de setembro a 17 de outubro de 2010

Quinta, Sexta e Sábado às 21 horas e Domingo às 20 horas

Entrada Franca – 60 lugares

Distribuição de Senhas a partir das 19:00 horas

Duração do espetáculo: 1 hora e 6 minutos

Classificação etária: livre